Portal Prof. Claudio Matos

CegosTec – Cegos que se destacaram na Tecnologia

Conheça a história inspiradora de pessoas cegas que romperam barreiras e alcançaram grandes feitos no mundo da tecnologia da informação.

Os primeiros programadores cegos do Brasil.

Conheça a história dos pioneiros da programação Domingos Sessa Neto e Márcio Quedinho As palavras obstinação e união podem muito bem ser aplicadas aos analistas de sistema Domingos Sessa Neto, 70, e Márcio José Amoroso Quedinho, 72. No início dos anos 70, os dois, que ficaram cegos devido a uma degeneração na retina, foram buscar aprendizado e colocação no mercado de trabalho na área de informática.

Bem-sucedidos, posteriormente transmitiram seus conhecimentos para outros deficientes visuais. Nesta entrevista exclusiva para o CONVIVA, eles lembram das dificuldades enfrentadas, de como superaram a falta de recursos e de como tudo começou.

Nos conhecemos em 1969, no Centro de Reabilitação da Fundação Para o Livro do Cego (hoje Dorina Nowill Para Cegos), durante um curso de orientação profissional. Não sabíamos muito bem nem o que era programador. Como a profissão estava começando naquela época, muita gente passou a dar aulas de programação e as emissoras de rádio e TV anunciavam os cursos", lembra Márcio, que, juntamente com Domingos, anotou vários endereços e saíram em busca de pessoas que pudessem lhes ensinar a programar computadores.

Ninguém quis nos dar uma oportunidade, não entendiam o nosso problema. Na IBM, por exemplo, estavam mais preocupados com uma porta imensa de vidro. Eu não sei se eles estavam com medo de que nós nos machucássemos ou quebrássemos a porta", brinca Domingos.

Mas foi na Burroughs, empresa concorrente da IBM na época, que eles conheceram o analista e encarregado dos cursos da empresa, Henrique Rozenfeld, que lhes disse que não sabia como fazer, mas gostaria de ajudá-los. "Essa foi a primeira palavra de concordância então", explica Domingos. Márcio conta que Rozenfeld propôs que eles frequentassem um curso na Burroughs durante uma semana, sem pagar, mas foi bastante complicado, devido à falta de apostilas em braile para que eles pudessem acompanhar as aulas. Rozenfeld, então, com a permissão do diretor da empresa, se dispôs a lhes ensinar programação em uma sala da Fundação Dorina e lhes forneceu uma apostila, que foi gravada por Helena, irmã de Domingos.

Obstinada, unida e aplicada, a dupla estudou muito e aprendeu a programar e a dominar os computadores da época. "Num congresso da Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais [Abedev], no Rio de Janeiro, em 1971, eu falei dessa nossa conquista e do domínio que já tínhamos dos computadores, sem um resultado prático ainda, mas que estávamos batalhando. Quando deixei a sala, todos vieram falar comigo, interessados na grande novidade", recorda Domingos.

Márcio conta que naquele mesmo ano, o orientador profissional da Fundação ouviu no rádio que o Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) estava contratando deficientes auditivos para trabalhar com perfuração de cartões (por meio dos quais os computadores liam os programas). "Se estavam contratando surdos, por que não cegos? Fomos lá e fizemos entrevistas com o RH e com a área técnica da empresa. Em 18 de outubro, fomos contratados para um estágio de seis meses. Depois de cinco meses e meio, fomos admitidos por tempo indeterminado", diz Márcio.

A falta de recursos acessíveis fez com que eles, com a ajuda do chefe de programação do Banco do Brasil, desenvolvessem o Listador Braille, um programa que pegava uma linha normal de impressão e convertia em três para configurar os caracteres em braile. Assim, a impressora, uma IBM 1403, passou a imprimir em braile, dando-lhes mais independência. "O primeiro programa que fizemos foi o do Imposto de Renda, de grande repercussão na época e muito elogiado, o que nos deu credibilidade", afirma Domingos.

Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais Em 12 de dezembro de 1970, Domingos e Márcio fundaram, em São Paulo, o Instituto Brasileiro de Incentivos Sociais (Ibis), por meio do qual iniciaram um curso experimental de programação em 1972 e, um ano depois, o curso oficial. Nos anos seguintes, a iniciativa foi levada para outros estados, promovendo social e economicamente as pessoas com deficiência visual.

Em 1973, para provar que um cego poderia atuar numa empresa que visa lucros, Domingos decidiu  deixar o Serpro e ir para o Banco União Comercial S.A. (incorporado pelo Itaú em 1974). Durante 32 anos, ele fez todos os cursos oferecidos pela empresa, desenvolveu inúmeros sistemas e se tornou um profissional de ponta do banco. Hoje aposentado, ele aplica os seus conhecimentos de administração, adquiridos na PUC, no condomínio onde mora com a família, em Atibaia, interior de São Paulo. Márcio, contudo, preferiu permanecer no Serpro, onde trabalha há 42 anos, embora também já esteja aposentado.

Hoje, realizados e bem-sucedidos, eles ressaltam a importância da união das entidades na qualificação profissional dos deficientes visuais. "Nós precisamos de gente nova, dedicada, disposta a aprender; e, se não houver união, não chegaremos a lugar nenhum", alerta Márcio.

Para Domingos, não adianta o governo definir vagas para os deficientes se eles não estiverem qualificados. "Essas pessoas precisam ter um amanhã concreto e ser estimuladas a buscar conhecimento. Quanto mais você adquire conhecimento, menos cego você é.

Lucas Radaelli – Engenheiro de Software no Google

Lucas Radaelli é um programador brasileiro cego que se destacou por sua atuação no Google, onde trabalha como engenheiro de software. Natural do Paraná, Lucas perdeu a visão ainda pequeno, mas nunca deixou que isso fosse um obstáculo. Desde cedo, mostrou grande interesse por tecnologia e programação. Estudou Ciência da Computação na Universidade federal do Paraná onde se formou com mérito.

No Google, Lucas atua no desenvolvimento de ferramentas acessíveis para usuários com deficiência visual, colaborando em projetos como o Android Accessibility Suite. Ele é também um defensor da inclusão digital e participa de conferências e eventos sobre acessibilidade, tecnologia e educação.

T. V. Raman– Desenvolvedor Cego Indiano no Google

é um desenvolvedor indiano cego que conquistou seu lugar no Google graças à sua paixão por tecnologia e seu talento em programação. Diagnosticado com retinite pigmentosa ainda jovem, ele aprendeu a usar leitores de tela e outros recursos assistivos para estudar e programar.

Formado em Engenharia da Computação na Índia, Raman desenvolveu projetos de acessibilidade e foi reconhecido internacionalmente por seu trabalho inovador. No Google, ele contribui com o desenvolvimento de produtos mais inclusivos, especialmente voltados para o público com deficiência.

Marco Zehe – Especialista em Acessibilidade na Mozilla

Marco Zehe é um profissional alemão cego que trabalha na Mozilla Foundation como especialista em acessibilidade. Desde 2007, ele contribui para tornar o navegador Firefox e outros produtos da Mozilla acessíveis para todos os usuários, especialmente aqueles que utilizam tecnologias assistivas.

Marco também é músico, blogueiro e defensor da acessibilidade digital. Ele compartilha suas experiências em seu blog pessoal, onde escreve sobre acessibilidade, software livre e inclusão. Seu trabalho tem sido fundamental para que navegadores e páginas web estejam mais preparados para atender pessoas com deficiência visual.